Que o mundo é estranho, nunca tive dúvidas. Que a forma com que eu o vejo é ainda mais estranha que o mundo em si, também não é novidade. Mas talvez para alguém seja, então compartilharei um pouco de meus delírios vespertinos com vocês, meus dois leitores queridos.
Lá estava a minha pessoa, sentadinha no banco do ônibus, no corredor, sem ninguém ao lado. Só me sento na janela quando tenho certeza de que o ônibus não vai encher ao ponto de que alguma das pessoas ali presentes precise compartilhar o banco comigo, ou seja, me encurralar no cantinho. Odeio ficar encurralada em cantinhos em ocasiões como essa. Enfim. O fato é que eu não tinha garantia nenhuma da exclusividade do meu banco, portanto fiquei no corredor, e quem quisesse que se encurralasse-se a si mesmo no meu cantinho. Não que eu fosse gostar.
Olhando passageiros entrando e saindo... quando Ele entra. Não o Ele bom, o Ele lá debaixo. Sabe, depois que eu li sobre o 'Encontro' do
Eduardo com o coisa ruim em uma praça de sua cidade, eu fiquei encucada. Sempre que vejo homens bem adaptados aos seus estranhos ternos, smokings ou seja lá o que for, lá vou eu me transportar para a tal praça, o banco, a noite. E foi exatamente isso que aconteceu no final da tarde de ontem. Aquele ser grande, de olhos claros, verde-amarelados, que pareciam não pertencer a ele (e muito provavelmente não pertenciam mesmo, a não ser que já tivesse quitado as parcelas com a ótica). O andar seguro e ameaçador, o suor além da conta, o terno preto, a camisa vermelho-infernal... céus, quem usa terno com camisa vermelha assim, no meio da tarde? Ele me olhou nos olhos, com um leve sorriso nos lábios, e senti arrepios. Veio e sentou-se no banco atrás de mim, do lado do corredor também. Imagina se o coisa ruim se deixaria ser encurralado. Enfim, só sei que aquele ser adiposo entrou solenemente na condução, chamando toda a atenção com aquele traje inadequado e demasiadamente apegado à sua avantajada pança... Acho que quando Eduardo o encontrou ele era magro, longelínio. Mas já faz algum tempo, afinal, e no do South Park ele já estava bem mais rechunchudo, então ainda assim eu podia estar certa. Sim, tenho referências suficientes para garantir o vôo livre de minha imaginação. Então lá estava o obesão do demo sentado atrás de mim. O celular toca:
- Fala, meu amor!
'Oh, céus, é a mulher do chifrudo! Sadan Hussein!'
- Tudo bem. Tô voltando da entrevista agora. Se eles gostaram de mim?! Claro que me adoraram, meu amor, quem não gosta do seu marido?
'Olha, eu não gosto não. Eu cometo meus errinhos, mas gostar de você eu não gosto, não. Definitivamente.' Então o endiabrado continuou o seu papo sobre contratos, entrevistas, e todas essas burocracias de quando se negocia com o coisa ruim. A não ser que você tenha um 'chirrin chirrión' do diabo, que dispensaria todas essas formalidades. Ele desceu no centro da cidade, que, vamos combinar, em plena segunda feira é um inferno. No relógio, 18:06. Fiquei tentando encontrar alguma relação naquela combinação de números, para fechar com chave de ouro todas as evidências de sua enxofridão... Até que:
*18, dividido por três? 666! E o 6 que sobrou, o dos minutos? Sem problemas, junta com as 18 horas outro lado do relógio, o que na verdade é 6. Mais o 6 dos minutos do lado de lá e voilá! Novamente, 666! É... TOCs de ocasião, diria uma amiga...
Yep. Diante de tantas evidênncias, não há contestação possível. Só a da minha sanidade. Ok.
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É... Fernando Sabino, South Park e Chapolin... eu consegui.