17.2.06

Fique de olho...

Aí eu vi uma menina hoje no ônibus que ocupou boa parte do tempo ocioso entre minha casa e o trabalho. Não, isso não é uma confissão de tendências homossexuais escondidas. Mas eu tenho mania de observar pessoas aleatoriamente. Você não tem não? Hum?

Ela tinha a pele branca e o cabelo muito comprido, pintado de preto, cuidadosamente escovado, com chapinha, liso escorrido. Era um cabelo impecável que brilhava ao sol. Eu reparei antes que ela entrasse no ônibus e fiquei pensando que deve dar um trabalhão cuidar daquele cabelo. Ainda mais com o calor que faz aqui no Rio, aquela perfeição toda não deve durar muito. De jeito nenhum... Não se a minha inveja pudesse impedir.

Ela estava com uma amiga. As duas estavam de bermuda. Reparei porque eu mesma andava obcecada por uma dessas, e estou nesse momento vestindo o meu exemplar. Só um comentário de uma consumidora feliz.

A menina era bonita e estava de blusa verde e óculos escuros exagerados. A menina e a amiga sentaram-se no banco a minha frente, e não pararam de conversar um só minuto. Pelo sotaque, supus que eram baianas. A menina bonita falava para a outra sobre algum tipo de simpatia, banho de sal grosso ou algo assim, que a tinha ajudado a conseguir uma coisa que queria muito. A outra rebatia, dizendo que não tinha sido o sal grosso, e sim Deus. 'Essas coisas de sal grosso, de banho disso, de banho daquilo... isso é tudo muito místico. Isso tira a glória de Deus. Deus é misériocordioso...' dizia a amiga. Hum, perdeu minha simpatia nesse momento. E a palavra misericordioso ganhou o monopólio de longos segundos de meus pensamentos. Coisa de autista.

As duas meninas pareciam independentes. Me lembraram minha prima e sua amiga, que se mudaram do interior de Minas para o Rio de Janeiro há algumas semanas, para estudar e trabalhar. Tinham o mesmo ar desbravador. Tinham em comum, ainda, o gosto pelas bermudas. É, essas bermudas estão mesmo na moda.

Daí elas continuaram conversando e saltaram no centro da cidade. A menina bonita chamava atenção, percebi os olhares de cobiça dos rapazes qnuanto ela saía do ônibus.

Então, a viagem de ônius continuou e eu esqueci da menina e de toda a conversa sobre a misericórdia de Deus.

***

Agora há pouco, sentada na minha sala, espio a televisão. E quem eu vejo? A menina bonita, de verde, com seus grandes óculos, o cabelo ainda impecável. Ela estava dando sua opinião sobre o 'Big Brother', numa daquelas insistentes chamadas do programa, comandada por um ser que acha uma boa idéia ameaçar jogar o microfone na cara dos telespectadores. Para mim parece um pouco agressivo. Ele deve achar original. Vai saber.

A menina de verde dava sua opinião: 'É, os homens são mesmo muito insistentes. Tanto aqui quanto na Bahia. Não tem diferença'. Em uma frase, confirmei minhas suspeitas. Afinal acertei, era mesmo baiana.

A menina, dando sua opinião sobre os observados da tv, nem deve imaginar que ela mesma estava sendo observada. Ninguém nunca sabe. Quem precisa de Big Brother, afinal?

***

Já o prêmio de 1 milhão de reais... bem, esse eu não garanto que você vá conseguir andando de ônibus por aí.