24.2.06

17.2.06

Fique de olho...

Aí eu vi uma menina hoje no ônibus que ocupou boa parte do tempo ocioso entre minha casa e o trabalho. Não, isso não é uma confissão de tendências homossexuais escondidas. Mas eu tenho mania de observar pessoas aleatoriamente. Você não tem não? Hum?

Ela tinha a pele branca e o cabelo muito comprido, pintado de preto, cuidadosamente escovado, com chapinha, liso escorrido. Era um cabelo impecável que brilhava ao sol. Eu reparei antes que ela entrasse no ônibus e fiquei pensando que deve dar um trabalhão cuidar daquele cabelo. Ainda mais com o calor que faz aqui no Rio, aquela perfeição toda não deve durar muito. De jeito nenhum... Não se a minha inveja pudesse impedir.

Ela estava com uma amiga. As duas estavam de bermuda. Reparei porque eu mesma andava obcecada por uma dessas, e estou nesse momento vestindo o meu exemplar. Só um comentário de uma consumidora feliz.

A menina era bonita e estava de blusa verde e óculos escuros exagerados. A menina e a amiga sentaram-se no banco a minha frente, e não pararam de conversar um só minuto. Pelo sotaque, supus que eram baianas. A menina bonita falava para a outra sobre algum tipo de simpatia, banho de sal grosso ou algo assim, que a tinha ajudado a conseguir uma coisa que queria muito. A outra rebatia, dizendo que não tinha sido o sal grosso, e sim Deus. 'Essas coisas de sal grosso, de banho disso, de banho daquilo... isso é tudo muito místico. Isso tira a glória de Deus. Deus é misériocordioso...' dizia a amiga. Hum, perdeu minha simpatia nesse momento. E a palavra misericordioso ganhou o monopólio de longos segundos de meus pensamentos. Coisa de autista.

As duas meninas pareciam independentes. Me lembraram minha prima e sua amiga, que se mudaram do interior de Minas para o Rio de Janeiro há algumas semanas, para estudar e trabalhar. Tinham o mesmo ar desbravador. Tinham em comum, ainda, o gosto pelas bermudas. É, essas bermudas estão mesmo na moda.

Daí elas continuaram conversando e saltaram no centro da cidade. A menina bonita chamava atenção, percebi os olhares de cobiça dos rapazes qnuanto ela saía do ônibus.

Então, a viagem de ônius continuou e eu esqueci da menina e de toda a conversa sobre a misericórdia de Deus.

***

Agora há pouco, sentada na minha sala, espio a televisão. E quem eu vejo? A menina bonita, de verde, com seus grandes óculos, o cabelo ainda impecável. Ela estava dando sua opinião sobre o 'Big Brother', numa daquelas insistentes chamadas do programa, comandada por um ser que acha uma boa idéia ameaçar jogar o microfone na cara dos telespectadores. Para mim parece um pouco agressivo. Ele deve achar original. Vai saber.

A menina de verde dava sua opinião: 'É, os homens são mesmo muito insistentes. Tanto aqui quanto na Bahia. Não tem diferença'. Em uma frase, confirmei minhas suspeitas. Afinal acertei, era mesmo baiana.

A menina, dando sua opinião sobre os observados da tv, nem deve imaginar que ela mesma estava sendo observada. Ninguém nunca sabe. Quem precisa de Big Brother, afinal?

***

Já o prêmio de 1 milhão de reais... bem, esse eu não garanto que você vá conseguir andando de ônibus por aí.

Batalha

Ele estava na dele. Depois da briga, não queria mais conversa. Tinha evitado esbarrar com ela pelos corredores da casa o dia todo. À tarde, dormiu no sofá, mesmo sem sono. Acordou, tomou um demorado banho e esperou até ouvir os passos dela se distanciando, indo da cozinha, onde sempre ficava, em direção ao quarto, onde ele não entraria tão cedo. Podia, assim, adiar por mais algumas horas o inevitável encontro. Mas apesar de todos seus esforços, agora se deparava com a curiosa situação. Não podia acreditar em seus olhos. Por que ela teria saído e deixado aquilo logo ali, na sua vista, exposto? Com certeza não foi por ingenuidade. Talvez fosse uma armadilha. Se ele colocasse a mão, luzes se acenderiam, um alarme soaria escandaloso e ela a olharia com o ar da vitória: 'Sim, você sucumbiu, eu sabia'.

É, depois dos últimos acontecimentos, era bem provável que ela tivesse planejado algo assim, não seria exagero algum considerar essa hipótese. Ele sentia que toda a cena tinha um quê de simbólica. Ela sabia o quanto ele gostava e precisava daquilo. Principalmente nesse momento, estando triste como estava. E, veja só, logo agora que a relação dos dois estava seriamente abalada, ela colocava ali, displicentemente, à sua vista, seu maior vício. 'Comprei especialmente para você', conseguia ouvir sua voz em tempos felizes, que se repetiria agora, não fosse aquela situação delicada que estavam atravessando. Não que ela própria também não gostasse, mas aquele já era um gesto pré-estabelecido para agradá-lo, ele sabia disso.

Ele não podia cair naquela amadora armadilha. Além do mais, ultimamente estava lutando bravamente para se livrar daquele vício. Tentou desviar o olhar, pensar em outras coisas, mas não conseguiu.

Talvez ela estivesse tentando comprá-lo, e ele não se venderia barato. Talvez fosse uma tentativa silenciosa de reaproximação, e ele queria distância. Ou talvez não fosse nada. Essa idéia era mais cômoda.

Não resistiu.

Abriu o pacote de biscoitos de chocolate e comeu quase tudo, deixando somente um na geladeira. Sua vitória não seria completa.

16.2.06

Eu já disse...

...que eu A D O R O a voz do Steven Tyler? E o jeito dele cantar?

Pois é, adoro do fundo do meu coraçãozinho. É que às vezes eu esqueço. Só para deixar registrado.


Eu morro. Clipe do Steven seguido por um do Foo Figters. Essa sequência foi especial para mim.


Aproveitando: Já disse que adoro o Foo Fighters também? E os seus clipes?

Então, eu adoro. Também muitas vezes esquecido, mas agora devidamente registrado. Bom, talvez não devidamente, mas seguramente registrado. Ou quase. Enfim.

***

A little bit of resolve is what I need now
Pin me down, show me how...

14.2.06

Let's get vain...

Então, andando no shopping, eu comecei a reparar nas coisas. Coisas que eu reparo em toda a parte, mas que se evidenciam nesses templos de consumo. 'Templos de consumo', que termo mais aula de teoria de comunicação. Enfim. O ponto é: todo mundo é tão igual! Sério, demais. Eu não sei o que acontece. Peguemos um exemplo bem simples: a moda. Rapaz, não sei se sou só eu que penso isso, mas as pessoas nunca se vestiram de forma tão parecida. Por pessoas, entenda-se mulheres. Não que os homens não se encaixem na mesma categoria. Não, quase sempre podem ser chamados assim também. Mas é que, em termos de moda, os homens não têm mesmo lá muitas opções. Mas nós, mulheres, não precisamos dessa mesmice. É sempre o mesmo material, aquele paninho macio, sabe? Então. Não agüento mais esse paninho. Não agüento mais as meninas de blusa lisa e cordão espalhafatoso. Não agüento mais as sandálias de uma tira só. Não agüento mais estampas floridas e cores berrantes. Devo deixar claro, entretanto, que não acho esses visuais ruins. Não são. São muito simpáticos, até. Mas é que irrita ver todo mundo vestido igual. A culpa nem é tanto das pessoas. Não mais do que das lojas, que só têm um mesmo estilo de roupa. Claro que isso é reflexo dos consumidores, então, ninguém se salva. O pior é ter que me adequar a esse estilo, em grande parte, por falta de opção. Só sei que sempre gostei muito de 'fazer comprinhas', mas isso tem me apetecido cada vez menos, porque tudo que eu encontro pela frente é sempre o mesmo que eu vi na vitrine anterior, nas ruas, em toda parte. Roupa tem que te dar aquele estalo, saca? Tipo, 'que máximo, nunca vi algo tão lindo em toda a minha vida, eu preciso disso'. Lógico que não dá para ser super original e diferente em tudo, afinal ninguém vive sem calça jeans, mas vocês entenderam. O máximo de originalidade que encontrei em meu passeio pelo shopping esse final de semana foi uma camiseta, de uma dessas lojas de marca ‘sem noção’, que trazia estampado nas costas o logo do Guaraná Antártica: 'Original do Brasil'. Totally.

**

Os cordões espalhafatosos merecem um comentário isolado. Gente, isso é muito doido. São iguais àqueles que eu pegava na caixinha de jóias velhas da minha mãe e usava para festas bregas, fantasias e afins. São os mesmos que eu olhava e falava: ‘mas, mãe, você realmente usava isso?’. Já hoje em dia, os acho bem aceitáveis, até uso. A moda é cíclica mesmo. Mas ‘saintropeito’, nunca mais!

**

Ok, bem fútil esse meu desabafo. Enfim, cada um desabafa o que tem abafado dentro de si, certo? Então pronto. Em minha defesa, digo que meu estado mental deve estar severamente alterado. Não é fácil passar 9 horas seguidas enclausurada dentro de um shopping sem sofrer os danosos efeitos de toda aquela sugestão consumista.

**

Já repararam que eu sempre tenho algo a dizer em minha defesa?

13.2.06
















I walk the streets of Japan till I get lost
Cause it doesn't remind me of anything
With a graveyard tan n'carrying a cross
It doesn't remind me of anything
I like studying faces in a parking lot
Cause it doesn't remind me of anything
I like driving backwards in the fog
Cause it doesn't remind me of anything

The things that I've loved, things that I've lost
Things I've held sacred that I've dropped
I won't lie no more you can bet
I don't want to learn what I'll need to forget

I like gypsy moths and radio talk
Cause it doesn't remind me of anything
I like gospel music and canned applause
Cause it doesn't remind me of anything
I like colorful clothing in the sun
Cause it doesn't remind me of anything
I like hammering nails, and speaking in tongues
Cause it doesn't remind me of anything

The things that I've loved, things that I've lost
Things I've held sacred that I've dropped
I won't lie no more you can bet
I don't want to learn what I'll need

Bend and shape me
I love the way you are
Slow and sweetly
Like never before
Calm and sleeping
We won't stir up the past
So discreetly
We won't look back

The things that I've loved, things that I've lost
Things I've held sacred that I've dropped
I won't lie no more you can bet
I don't want to learn what I'll need

I like throwing my voice and breaking guitars
Cause it doesn't remind me of anything
I like playing in the sand what's mine is ours
If it doesn't remind me of anything

'Doesn't remind me' - Audioslave

9.2.06

Desde aquele dia na Lapa

Manter a concentração. Ah, como é difícil não pensar em qualquer outra coisa que não seja aquilo no que você deveria estar prestando atenção. Estava eu pensando nessa complexa questão, justamente enquanto deveria estar ouvindo o que dizia um entrevistado. Em minha defesa tenho a dizer que eu estava como mera observadora da entrevista, dando um ‘apoio moral’, digamos assim.
Na sala: a responsável pela entrevista, meu chefe a assessorando em sua tarefa, o entrevistado e eu, divagando sobre diversas questões. Ainda me impressiono com minha grande utilidade para o pleno desenvolvimento do trabalho em minha empresa.
Até que o papo estava, hum, interessante. Implantação da rede, sim, intranet, internet, processos, equipamentos... Que vista bacana tem essa sala. É uma sala simpática. Não muito grande, mas tem o tamanho ideal. E olha essa janela, olha essas árvores... Porque nós temos todas as condições de implantar a intranet, mas essa não é a nossa competência... Sim, que árvores bonitas! Tão próximas! E altas! Céus, essa janela é muito alta, olha só, dá pra ver o topo dessas árvores enormes... Isso é uma questão política. Falta o planejamento, mas tendo isso, não teríamos problema nenhum em tomar a frente da parte do processo que nos compete... Mas peraí: Estamos no térreo. Sim, não subimos escadas nem elevador. Como posso estar vendo o topo das árvores aqui do térreo? Como? Mundo estranho esse. Desde aquele dia na Lapa as coisas têm estado muito esquisitas. A parte dos equipamentos está sob a responsabilidade da presidência, já o resto do orçamento vem da unidade de administração... É, aquele dia na Lapa foi bem bacana. Mas e essas árvores? Sério, será que essa janela dá pra um barranco, precipício ou coisa que o valha? Só pode, não é possível ter a visão desse ângulo de árvores tão grandes estando no térreo. Mas que vista bacana, se eu trabalhasse aqui não conseguiria me concentrar em nada, só ia ficar observando o balanço dos galhos. Se bem que já não me concentro muito lá na minha sala fechada, então não faria tanta diferença assim. Sim, seria melhor que parte da equipe ficasse mais próxima aos equipamentos, para o caso de alguma pane. Mas outras pessoas não necessitam dessa proximidade física... Árvores, eu adoro árvores.
E assim passou o tempo, tudo transcorrendo na “mais santa paz de Deus”, como diria minha mãe. E eis que, de repente, avisto pela janela uma pessoa caminhando tranqüilamente... e penso eu com meus botões: a presença daquele indivíduo naquele inusitado local pressupunha um nível de solo que não condizia com o que estariam enraizadas aquelas árvores tão imponentemente altas. Ou seja, ele tá voando! Como, como pode? Já tinha me acostumado com a idéia do barranco, mas aquela pessoa caminhando ali, tão próxima à janela, acabava com minha teoria! Sim, nós temos esquemas de plantão, a rede funciona 24 horas... Só se eu estiver louca! Não tem como essa pessoa estar andando no ar! Nesses dois anos a rede não passou mais que duas horas fora do ar... Exatamente, caminhando no ar! Puxa, que divertido! O trabalho nessa sala deve ser um barato mesmo... árvores gigantes, precipícios, pessoas caminhando pelos ares... É basicamente isso. Qualquer dúvida é só me procurar novamente que esclareço com o maior prazer... Será que pergunto sobre a questão da exótica paisagem que se avista dessa janela? Não, deixa pra lá, acabaria com toda a magia do momento...
Na volta pra casa, numa segunda chuvosa, o ônibus avança veloz pelas ruas, fazendo com que se levante uma onda de água empoçada, como se, em vez do asfalto, estivesse andando sobre as águas... É, o mundo têm estado muito esquisito. Desde aquele dia na Lapa.